Há espaços que carregam mais do que paredes e cartazes: carregam histórias, memórias e a força de um povo que, mesmo silenciado por séculos, resiste através da palavra, da arte e da educação. O Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-Brasileiras e Indígenas (NEAB) da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac) é um desses lugares. Há 25 anos, o grupo vem semeando debates, reflexões e afetos em torno da identidade, da ancestralidade e da valorização das culturas afro-brasileiras e indígenas.
E foi nesta segunda-feira (27) que o NEAB realizou o segundo encontro da programação voltada à Semana da Consciência Negra, reafirmando o compromisso de transformar o ambiente universitário em um território de escuta, reconhecimento e aprendizado coletivo.
Segundo Nancy Alves da Rosa, pesquisadora do núcleo e professora da rede estadual, o trabalho do NEAB nasceu do ideal de mulheres visionárias. “Essa proposta foi implantada pela professora Maria Aparecida, já falecida, junto com a professora Renilda e a professora Odete. Elas foram de porta em porta até conseguirem que a Uniplac cedesse um espaço, e desde então seguimos de forma voluntária, participando de simpósios, congressos e eventos que fortalecem essa rede de saberes”, relembra Nancy.
Mais do que promover debates, o NEAB atua como ponte entre a universidade e a comunidade. Em parceria com escolas, movimentos sociais e a biblioteca universitária, o núcleo tem levado o diálogo sobre cultura, educação e ancestralidade para além dos muros acadêmicos. “Todo mês de novembro fazemos uma exposição temática, participamos de palestras e encontros. Durante a pandemia, realizamos mais de 20 lives com convidados de várias regiões, discutindo desde educação e empreendedorismo até religiões de matriz africana”, destaca a coordenadora.
Mas a essência do trabalho do NEAB vai além da programação. É sobre plantar consciência nas salas de aula, nos corredores e nas conversas cotidianas. Para Nancy, eventos como o desta segunda-feira são oportunidades de provocar um olhar mais atento sobre a história e o papel social da educação. “O importante é que os professores entendam que, independente da cor, têm a obrigação de levar esse conteúdo com primor, levantando a autoestima dos estudantes e apresentando exemplos positivos. Antes se falava apenas do período escravocrata, mas nossa história é muito mais ampla, temos inventores, pensadores, personalidades que precisam ser conhecidas e admiradas”, reforça.
A fala de Nancy ecoa como um convite à reflexão. O reconhecimento da cultura afro-brasileira não é apenas uma questão identitária, mas uma forma de reconstruir o tecido social rasgado pelo apagamento histórico. A universidade, nesse sentido, torna-se palco de uma reparação simbólica, um espaço onde o conhecimento se mistura à memória e onde aprender também é um ato político.
A programação da Semana da Consciência Negra na Uniplac segue até novembro. No dia 6 haverá o lançamento do livro Além das Ausências: Paternidades Negras no Pós-Abolição, do professor e pesquisador Matheus, seguido de uma conversa com o autor. Já nos dias 18 e 19, o hall de entrada da universidade receberá uma exposição sobre cultura africana e afro-brasileira, organizada em parceria com o Compir e a biblioteca universitária. O encerramento acontecerá no dia 20 de novembro, com uma tarde cultural no Lages Garden Shopping, marcada por apresentações artísticas e manifestações culturais afro.
Em tempos em que o esquecimento parece mais confortável que o enfrentamento, o NEAB reafirma a importância da memória, não como um peso, mas como raiz. Porque compreender o passado é, antes de tudo, um gesto de liberdade.
Fotos https://photos.app.goo.gl/GzZmrZXPXvyagRAX6
Texto Raissa Xavier Burigo / Fotos Artur Miranda / CNU - Central de Notícias Uniplac / Publicado dia 28/10/2025